23 de mai. de 2010

a princesa e eu - michel laurence

A Princesa Caroline de Monaco era linda...

O câmera Kleber Schetini e eu estávamos em Paris, pela Globo. Foi em 1978, ano da Copa da Argentina e o recém criado departamento de jornalismo esportivo ensaiando seus primeiros passos para cobrir um grande evento.


Armando Nogueira e Hedyl Valle Jr. nos tinham mandado para a Europa com a missão de entrevistar grandes estrelas como Michel Platini, da seleção francesa, e colher imagens que pudessem ser utilizadas para ilustrar reportagens durante a Copa.


Nos tínhamos rodado por vários países mas voltávamos sempre para Paris, onde ficava paquerando os jornais atrás de notícias que pudessem nos interessar.


Numa dessas investigadas li que Philipe Junot marido da princesa Caroline, de Mônaco, a linda filha do príncipe Rainier 3º e da ex-atriz americana, a linda Grace Kelly, ia jogar uma pelada beneficiente no estádio de Colombes, palco da final da Copa do Mundo de 1938.
Tinha tudo a ver. Caroline, de Mônaco, um furacão que abalava os alicerces da realeza e da elite monegasca, e Junot, que segundo li, era um milionário, ruim de bola, que por nem saber chutar direito ia jogar de ponta-esquerda, na companhia de gente que devia ser famosa na época. No estádio da final de 38.


- Vamos lá, a Caroline vai estar assistindo ao tal de Junot, se não der para entrevistar, pelo menos fazemos imagens.


- Não temos credenciais – avisou o Kleber.


- Ah, mas eu tenho a carteira dizendo que sou jornalista e em francês a palavra jornalista é quase igual. Vamos lá, se der deu, se não der não vai fazer a menor diferença.


Chegamos lá e fiquei maravilhado de estar no lendário estádio da final da Copa de 38. Nos trataram muito bem:
- “Bresilien” – era assim que o encarregado do estádio nos chamava – vem ver esse pedaço da arquibancada. É original, é o único pedaço que nunca foi mexido.


Fiquei admirando aqueles degraus de arquibancada como se fossem sagrados.


- O telhado da parte coberta também é original – explicou o bom homem enquanto Kleber filmava – as colunas, tudo. Só o piso é que estava ameaçando ruir e teve que ser substituído.
Perguntei se a gente podia ficar na parte coberta. Ele sorriu e com um gesto amplo explicou:



... e continua sendo.

- Vocês podem ficar onde quiserem “les bresiliens”.


Nos chegamos cedo e pouco a pouco foram chegando os “jogadores”. Tinha até uns grandes jogadores do passado. Just Fontaine, artilheiro recordista de gols numa única copa a de 58,com 13 gols (essa marca nunca mais vai ser batida), terno, gravata, elegante, mancando em conseqüência de uma fratura mal curada.


E aí os alto-falantes anunciaram a entrada da equipe formada por celebridades e Junot foi muito aplaudido.


Instintivamente olhei para trás para a Tribuna de Honra, e lá estava ela. Linda de morrer, sorridente, elegante, simpática, de pé aplaudindo o marido.


- Kleber, lá tá ela!


E saí correndo, subindo os degraus, microfone na mão, como se fosse uma espada, seguido pelo Kleber que tinha que me acompanhar porque o fio do microfone estava plugado da sua CP – uma câmera cinematográfica.


Como a segurança me impedia de chegar até ela, comecei a gritar:
- Caroline.. Caroline! Une entrevue s’il vous plait! C’est pour le Bresil! (uma entrevista por favor, é para o Brasil).


Ela olhou na minha direção com um ar espantadíssimo e deve ter pensado:
- Meu Deus, quem será esse louco que me trata como se eu fosse uma amiga íntima?


Abriu um lindo sorriso, e fez um sinal com as mãos que não era possível.


Olhei em volta todo mundo sorria discretamente.


Olhei para o bom homem que tinha mostrado o estádio e perguntei:
- O que houve?


E ele:
- Bom, monsieur, o senhor tinha que chamar: “Princesa”, “Princesa Caroline”!


É o que dá a gente não estar acostumado a monarquia.

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