13 de mai. de 2010


O medo do fantasma



 Um espectro rondava a Europa na semana passada — o espectro da Europa de antigamente. O espectro de interesses em conflito e nacionalismos irreconciliáveis que a nova comunidade europeia tinha vindo exorcizar. Ainda não se sabe se o pacote amarrado para ajudar a Grécia e os outros países agonizantes vai dar certo, mas pelo menos não se fala mais — por enquanto — dos terrores da semana passada: o fim do euro, o fim da união europeia, o ressurgimento da velha Europa do seu túmulo.
A discussão sobre o ajuda não ajuda a Grécia e os outros de certa forma reeditou a discussão que precedeu a criação da união, entre os políticos, que defendiam a nobre ideia de comunidade e de superação do passado, e os economistas, que tinham dúvidas. Agora como antes, ganharam os políticos, para salvar a ideia, mas o ceticismo dos economistas se justificava. Nenhum político se lembrou que uma moeda única impediria países em dificuldade de jogar com o câmbio e a desvalorização ou valorização da sua moeda nacional para resolver suas crises. Hoje os economistas podem se dar o pequeno prazer da frase triunfal "Eu não disse?" — enquanto são mais uma vez forçados a apoiar uma ação que contraria a sua ortodoxia. O medo do fantasma superou o medo da inortodoxia.
Há outro confronto por trás da hesitação em salvar os países em crise, esse tão antigo quanto a Europa: o sóbrio, frugal, luterano e ligeiramente bárbaro Norte contra o frívolo Mediterrâneo e seus arredores católicos, mais dados a irresponsabilidades financeiras. Este contraste agora tem um complicador novo. O remorso por tudo que tinha aprontado na história da Europa fazia da Alemanha um parceiro relativamente dócil, mesmo que dominante, na aventura do euro. Mas a frau Merkel e sua geração não têm idade nem para ter sido da juventude hitlerista. É uma geração sem culpa, para a qual "nacionalismo" é uma palavra sem outra conotação além do seu apelo eleitoral. Mas este confronto também foi superado pela emergência que ameaçava a união, e até a frau Merkel concordou em ajudar.
A comunidade está salva. Por enquanto.

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