1 de abr. de 2010


Sobre turistas em Paris



Eu não conheço a Saint Chapelle. Moro em Paris há mais de três anos, mas nunca fui à igreja famosa por ser a mais linda dessa cidade cheia de igrejas lindas.
O motivo é simples: todas as vezes que eu passo na frente da Saint Chapelle há sempre uma fila gigantesca e - o que é pior - que não anda. Olho para todas aquelas pessoas com suas caras de predestinadas a visitar a Saint Chapelle e vou-me embora sentar num café e olhar o rio.
Desde que eu tenho um blog - e mais ainda desde que comecei a compartilhar com a turma do blog do Noblat minhas impressões sobre Paris - vira e mexe alguém me escreve querendo dicas do que fazer na cidade-luz..
A maior parte descreve o mesmo desejo: fazer todo o roteiro oficial e, além disso, conhecer a Paris dos parisienses - a parte menos turística da cidade.
O problema começa porque o roteiro oficial, em Paris, é gigantesco. O Louvre, o D'Orsay, a Torre, a Notre Dame, a Sacré-coeur, o Marais, Montmartre, o Quartier Latin, Saint Germain des Prés, Galeria Laffayette, Champs Elysées, o Arco do Triunfo - sem falar nos que querem ainda o Vale do Loire, a Disneyland Paris ou outra "viagem curtinha que dê para fazer por perto".
É verdade: quando se pensa em visitar Paris pela primeira vez, tudo parece incontornável. E o pior - esse tudo tem ser feito em no máximo cinco dias, porque afinal não se vem a Europa todos os dias, e ainda tem que dar tempo de ver Amsterdam, Londres, Madri.
O problema de viajar assim é que se vai embora com a sensação de ter saído de uma corrida de obstáculos. Depois de dez dias de câmbio, mapas e filas, a pessoa quer tudo menos sair correndo para entrar em outro museu - ou visitar outra igreja.
Uma vez ouvi um homem dizer que Paris é mais bonita da segunda vez que se visita - e é verdade. Simplesmente porque todo o "obrigatório" já foi feito - a pessoa já marcou todos os xis no seu guia turístico e pode, finalmente, curtir a cidade.
Só para que fique bem claro, não é proibido curtir a cidade já da primeira vez. Se você não é fã de arte, ninguém te obriga a fazer fila no D'Orsay nem a visitar o Louvre inteiro. Ao contrário do que muitos dizem, subir na Torre não é uma experiência transcendental e a Galeria Laffayette só vale para quem realmente gosta de comprar - e de pagar caro!
Falo para todos que me perguntam: faça só passeios que você normalmente gosta de fazer. Parque para quem é de parque, museu para quem é de museu, compras para quem é de compras.
Mas sobretudo guarde um dia, de preferência quando abrir um belo sol, para passear sem rumo. Ir andando do Marais a Saint Germain des Prés, ou o contrário. Sentar na Pont des Arts, tomar um sorvete. Escolher um café - qualquer um pelo caminho, sem precisar ser o melhor de todos, o indicado pelo guia. Ler um pouco num belo jardim. Comprar frutas numa feira de bairro. No fundo, Paris está mais aí do que no Louvre.
E se, depois de ter feito isso, você ainda tiver um tempinho, entre na fila da Saint Chapelle. Prometo, antes de ir embora, eu ainda faço isso.

Carolina Nogueira é jornalista e mora há dois anos em Paris, de onde mantém o blog Le Croissant (www.le-croissant.blogspot.com)

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