1 de abr. de 2010






O FILME DE PELÉ

Armando Nogueira - trecho




As lembranças que dele guardo, na mente e no coração, se sucedem como num filme: vejo-o, o corpo inclinado pra frente, os pés tocando a bola, céleres, um drible aqui, duas fintas adiante – era um estrépito na direção da área. Havia sempre alguém com quem tabelasse: no começo, foi Pagão, depois, seria Coutinho e, por fim, Tostão. O melhor da cena é que, à falta de um parceiro, ele chegava, muitas vezes a usar a perna do beque rival na vertigem de uma triangulação. Houve um gol no Benfica, no Mundial de Clubes, em que, por duas vezes, no mesmo lance, Pelé fez tabelinha com desatentas canelas portuguesas.

Pelé não tinha um pingo de sofreguidão. Era tamanha a superioridade técnica, tão notável a força física e mental, que, dentro ou fora da área, atemorizava todo mundo. Daí ter feito todo tipo de gol que alguém possa imaginar. É o que digo, em crônica escrita sobre o Gol-1000: “O gol de ação, Pelé está cansado de fazer, chutando bolas suadas, bolas amadas, bolas sangrentas, bolas mortas, bolas vividas, bolas divididas. O gol dos deuses, desses, Pelé certamente perdeu a conta: bola no peito, três dribles verticais, um chute certeiro. O gol dos espertos, Pelé já fez: uma tarde, enlaçou o braço no braço de um beque e saiu a gritar pro juiz: “Ele está me agarrando!” Pênalti – Pelé cobrou e marcou.”

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