Fernando Botero
É o tipo de dois em um indesejável.
Uma variação de um gene ligado à obesidade, presente em mais de 1/3 da população americana, também reduz o tamanho do cérebro, aumentando o risco de o portador desenvolver o mal de Alzheimer. É o que revela um estudo feito por pesquisadores da Universidade da Califórnia Los Angeles, publicado na “Proceedings of the National Academy of Sciences”.
Vulnerabilidade a doenças mentais
Pessoas com essa específica variação do gene da obesidade, o gene FTO, desenvolvem deficiências no cérebro que podem tornar o seu órgão mais vulnerável à doenças mentais. Presente também em metade da população europeia, o FTO afeta o metabolismo e a forma como os seus portadores acumulam gordura.
— O que descobrimos é que esse gene, que é bastante prevalente, não apenas acrescenta alguns centímetros à cintura dos seus portadores, mas também faz com o seu cérebro fique parecendo 16 anos mais velho — afirma o professor de neurologia da Universidade da Califórnia Los Angeles, Paul Thompson, que conduziu o estudo.
Thompson e sua equipe analisaram as imagens, feitas com ressonância magnética, do cérebro de mais de 200 voluntários, com idades entre 55 e 90 anos, em 58 clínicas.
Esses centros que colaboraram com o estudo fazem parte de um projeto de cinco anos que visa a examinar os fatores que ajudam o cérebro a combater as doenças associadas ao seu envelhecimento.
Os pesquisadores encontraram menos tecido no cérebro daqueles que possuíam a versão “ruim” do gene em relação aos que não portavam a anomalia. Em média, as pessoas com a variação do gene FTO tinham 8% menos tecido no lóbulo frontal — normalmente considerada a região que comanda o cérebro. Essas pessoas também tinham 12% menos tecido nos lóbulos occipitais, a parte do cérebro que comanda a visão e outras percepções.
— Nenhum dos participantes do estudo tinha problemas cognitivos.
Entretanto, essas áreas do cérebro são consideradas críticas para a resolução de problemas e para a percepção em geral — conta Thompson. — Assim, essa atrofia aumenta o risco de demência e problemas de memória.
De acordo com o pesquisador, quanto menos massa cerebral, maiores as chances de uma pessoa desenvolver Alzheimer, já que dessa forma ela não possui reservas para compensar caso as plaquetas ligadas à doença se formem.
Derrames também causam a redução da massa cerebral, comprometendo essas reservas.
Dieta e exercícios atuam na prevenção
Para combater esse efeito no cérebro, os pesquisadores destacam a importância de uma dieta com pouca gordura, aliada à prática regular de exercícios.
Em 2008, um estudo feito com integrantes da comunidade Amish, nos EUA, que possuíam essa variação genética, mas eram fisicamente ativos, mostrou que todos tinham quase o mesmo peso dos não portadores, sugerindo que a prática de exercícios pode superar a predisposição genética para a obesidade.
O estudo atual mostra que pessoas com essa variante genética pesam, em média, três quilos a mais do que os não portadores, e têm 70% de chances a mais de se tornarem obesos.
— Sem dúvida, exercícios e uma alimentação saudável são capazes de salvar seu cérebro de derrames e também do surgimento do mal de Alzheimer — diz Thompson.
Para o principal autor do estudo, as descobertas podem levar ao desenvolvimento de novos remédios e formas de tratamento para doenças que afetem o cérebro. O mal de Alzheimer ainda não tem cura e a doença atinge cerca de 26 milhões de pessoas em todo o mundo. Todos os tratamentos visam a diminuir os sintomas, mas nenhum deles até agora conseguiu reverter o avanço da doença.
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