24 de mar. de 2010


Água de beber



Uma criança com menos de 5 anos de idade morre a cada 20 segundos porque bebeu água suja.
O alerta partiu da ONU, que divulgou ontem o documento intitulado Água Doente, denunciando a morte de 1,8 bilhão de crianças por ano, naquela faixa etária, vítimas da ingestão de água poluída.
Ou por não terem líquido potável para vencer a sede.
O que impressiona também é que a tragédia da falta de água tratada para beber mata mais gente do que guerras e todas as formas de violência. O que é pior? Não há resposta. Tudo está interligado.
O assunto é triste, mas remete a uma realidade que não deve ser posta de lado, jamais. Noventa e sete por cento da água que cobre nosso rochoso planeta é salgada.
Da doce parte, quase 2% estão sob a forma de neve e gelo. O restante se encontra em aquíferos subterrâneos, em lagos, rios e lagoas.
Descontado o que vai para a produção de alimentos, na agricultura e pecuária, e para a indústria em geral, o que chega nas torneiras das casas é a sobra da sobra.
E olha que o brasileiro não pode reclamar. Cerca de 13 % da água de todo o planeta está em nosso país, embora a maior quantidade se concentre na Amazônia, região com baixa densidade demográfica.
Epa. O fato do Brasil possuir a maior reserva de água doce entre as nações emergentes não quer dizer que é para ficar imaginando-a como uma commodity.
Exportá-la? Água não é petróleo. Nem motivo para fazer passeata com palavras de ordem: "A água é nossa!"
Muito menos alimentar delírios com fantasias cinematográficas tendo como modelo aventuras de 007; induzindo jovens a pensar na possibilidade de forças estrangeiras invadirem nosso território para nos roubar o precioso H2O.
Porém, ninguém discorda que essa reserva seja uma riqueza incalculável, podendo fazer uma real diferença para o desenvolvimento de nossa economia e aprimoramento social.
Entretanto, o que mais me preocupa após as celebrações do Dia Mundial da Água (da água para beber) é como encarar, daqui por diante, aquela recomendação de lavar bem as mãos para evitar contaminações.
Água e sabão previnem doenças. Quem não sabe que a maioria das pessoas nas filas dos hospitais públicos carece de saneamento básico? Existe limpeza com água não tratada?
E, numa epidemia de gripe, o que significa para moradores de comunidades carentes ouvir uma autoridade da área de saúde, no horário nobre da televisão, recomendar o cuidado básico? Aquele: higiene nas mãos.
Nas mãos e no corpo todo. Torneira aberta é desperdício, mas água para banho também é saúde.

Ateneia Feijó é jornalista

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