Minha mãe, mesmo já velhinha, por conta de seus dons divinos na cozinha, ainda trabalhava na casa do dono de um grande banco.E só voltava aos fins de semana, mas na segunda-feira lá vinha o administrador da fazenda buscá-la, que o homem não ficava sem seus pratos.Numa dessa idas e vindas, minha mãe que era muito apegada a criações de pequenos animais, ganhou uns quarenta pintinhos do administrador e como não tínhamos quintal, minha mãe lembrou de uma comadre sua, Dona Lurdes, coincidentemente, mãe do Chuep.
Bom, Dona Lurdes era um negra retinta, casada com o finado Seo Juraci; que tinha perdido uma filha queimada com a explosão de uma embalagem plástica de alcool. Um tragédia na Vila, deu até " Gil Gomes ". Dona Lurdes era amiga de minha mãe desde o Frigorífico Wilson, onde trabalharam juntas na triparia.Amizade antiga que virou comadrio.
Enfim, proposta a parceria, como diriam os politicamente corretos, levamos os pintainhos para dona Lurdes.Vira e mexe ela ligava lá em casa para pedir dinheiro para comprar a ração. E minha mãe me mandava entregar o dinheiro.E assim ia bem a parceria. Passados uns onze meses, um dia minha mãe lembrou dos franguinhos e falou:- Meu filho, tô com vontade de fazer uma canja, liga prá Lurdes e diga que vc vai lá pegar uma franguinho. Liguei e após atenderem chamei minha mãe prá falar.
Ato contínuo, vi minha mãe fazer uma careta de descontamento. Tapou o bocal do telefone e me disse :
Meu filho, essa filha da puta dessa nêga, tá me dizendo que os franguinhos morreram todos destroncados querendo passar pro quintal do vizinho. Vê se é possível uma coisa dessa!
( Eu fiz cara de riso, mas minha mãe com seu olhar censurador,me desaconselhou)
Voltou ao telefone: - Tá bom Lurdes, passar bem. E soltou um muxoxo pragueando: Ah, Nega infeliz! ( Dona Lurdes sumiu por uns tempos, mas após uns tres meses reapareceu e já tava perdoada.) Maria, minha amiga de tanto tempo... Sinto uma saudade de você! (E foram amigas até o fim da vida!)
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