18 de fev. de 2010

alex periscinoto






 Eu já comentei aqui que dentre os ajudantes abençoados pelos publicitários na hora de criar um comercial inovador (meta nem sempre alcançada) sem ter à mão nada de extraordinário, nada melhor do que o velho e sambado cachorrinho. Ou cachorrão. Qualquer um. O cão é o melhor amigo do criativo. O salvador da pátria que ajuda a fixar o comercial na memória do telespectador e faz com que ele diga “sabe... é aquele comercial onde o cachorrinho faz aquilo...”. E completa a frase com a coisa mais desanimadora pro anunciante: “é aquele comercial do... da... qual era mesmo o produto?”. É isso que acontece na maioria das vezes: o cachorro é tão marcante que, de coadjuvante, vira protagonista e apaga todo o resto, inclusive o produto.
Instinto caninocida.
Assim, na linha do pensamento cachorral, achei que valia a pena comentar a abordagem suavemente sádica e divertidamente diferenciada deste comercial veiculado tempos atrás e que tem como protagonista um daqueles cachorrinhos que despertam o nosso instinto “caninocida” (vontade de esganar o bicho) pelo latido fininho e interminável contra tudo e todos. O comercial deixa claro logo de início que o dono da Suzuki odeia passear com o reizinho da casa que, entretanto, é amado pela digna esposa. Que, é claro, tem prazer em obrigar o maridinho a fazer uma detestável lição de casa: levar sua excelência pra passear. Aqui acontece a virada criativa na forma de inserir um cachorro num comercial: em vez da óbvia e clássica bajulação do bicho, a história mergulha na contra-mão.
Dá-lhe malvadeza.
Caminhando no reverso da normalidade, o comercial vai com tudo pro humor perverso e politicamente incorreto (ou, caninamente incorreto): o maridão, frustrado pela imposição da patroa mandona que o impede momentaneamente de curtir a adorada moto, vinga-se. De fininho, na malandragem cínica, literalmente na moita pois é atrás das árvores que o motociclista põe o bichinho pra correr a 120 km/h. É “marvado”? É divertido imaginar o cachorrinho com a língua de fora disparando numa velocidade impensável? Desculpem, mas a resposta é “sim” pras duas perguntas. Claro que o anunciante deve ter enfrentado broncas das instituições protetoras dos animais. É um preço a pagar por fugir à normalidade. Se o comercial fez a Susuki vender mais motos não se sabe, até porque o sucesso de mercado não depende apenas de um comercial criativo (que bom seria). Mas que a Suzuki fez seu comercial ser visto, memorizado e comentado, tenha certeza. É importante lembrar um detalhe psicanaliticamente real: as pessoas nunca assumem que a malvadeza tem esse magnetismo. Volta e meia a gente não se pega torcendo pro anti-herói em vez do mocinho do filme? Caso do Pinguim. Ele tem mais empatia, é muito mais envolvente e divertido do que o Batman e o Rob juntos. Não é? Viu a sintonia? Você poderia ser o piloto do comercial da Suzuki.

Um comentário:

  1. da lógica ao absurdo publicitário, o inverso seria de impacto, um cão de grande porte, arrastando seu dono ladeira abaixo.

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