18 de fev. de 2010

alberto dines





Mídia demorou a entender o enredo




A mídia assistiu de camarote ao desfile do Bloco do Arruda, a festa foi das instituições que defendem os interesses da sociedade: o Ministério Público, o Judiciário e a Polícia Federal. A imprensa cumpriu a sua função de tambor e trombone – não investigou, não seguiu pistas, não foi adiante. Contentou-se com o prato feito pelas autoridades policiais e a sensacional coleção de videoclipes produzidos pelo ex-cúmplice Durval Barboza.
O único "jornalista" que entrou na história foi o cognominado "Sombra", Edmilson Edson dos Santos, mas pela porta dos fundos, ao fingir que aceitava ser subornado pelo governador do José Roberto Arruda e assim oferecer as provas de que deveria ser encarcerado para não prejudicar as investigações.

A grande imprensa há muito desistira de acompanhar a política do Distrito Federal. Antes de Arruda, pesadas acusações envolvendo o nome do ex-governador Joaquim Roriz chegavam regularmente às sucursais brasilienses da imprensa dita nacional. Às vezes transpirava alguma coisa, mas raramente alcançava a primeira página ou as escaladas dos grandes telejornais. Velhas raposas políticas, ambos eram bem conectados com o mundo e o submundo midiáticos, exímios na arte de desviar dos holofotes e usá-los em seu beneficio. Empregos e favores no GDF não chamam a atenção, ao contrário do que acontece na Praça dos Três Poderes ou na Esplanada dos Ministérios.

Milagres simuntâneos

Pega de surpresa e diante da fartura de cenas de corrupção explícita fornecidas pelas autoridades que acompanhavam o caso, a grande mídia se soltou. Como o Democratas desde o início tentou demarcar-se do lodaçal fabricado por seu único governador, a cobertura do Bloco do Arruda seguiu livre, sem justificativas, malandragens e lealdades partidárias como aconteceu com os mensalões anteriores.

O que nos leva à alcunha utilizada pela mídia: trata-se efetivamente de um "mensalão" ou de um "propinoduto"? Mensalão pressupõe um sistema de favorecimentos contínuos e regulares. O caso do governo do DF assemelha-se a um sistema de propinas, um "propinoduto" semelhante ao que foi desbaratado na Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro. Licitações e votações tinham padrinhos e afilhados específicos – alguns eram habituées, nem todos.

Como em sua primeira reação o presidente Lula tentou minimizar as revelações, a mídia retalhou e colocou a etiqueta de "mensalão" para assim lembrar o episódio que envolveu o PT e a base aliada, em 2005. Como, posteriormente, descobriu-se o mensalão do PSDB mineiro, adotou-se agora um genérico isonômico e ainda mais degradante: o mensalão do DEM.

A mídia produziu vários milagres simultâneos: em pouco mais de dois meses conseguiu a façanha de enfiar um governador no xilindró e, ao mesmo tempo, mostrar à sociedade brasileira que o Bloco do Arruda não foi apenas a inspiração para algumas divertidas marchinhas de carnaval. É uma tragédia nacional.

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