19 de jul. de 2009


TOSTÃO

Cruzeiro tropeçou na alma

O Cruzeiro perdeu, também, por não ter controlado a ansiedade de decidir um título importante em casa


A ANSIEDADE é uma reação normal e necessária ante um perigo real e objetivo. No caso dos atletas, a ameaça é a derrota e o fracasso. Todos os jogadores, de alguma forma, alternam-se emocionalmente em uma decisão, ainda mais quando se decide em casa, diante de um inevitável otimismo.
A ansiedade, até certos limites, é benéfica. Há uma maior produção de substâncias químicas e o jogador fica mais atento e mais vibrante.
Se a ansiedade for exagerada, o cérebro deixa de comandar o corpo, e os atletas passam a errar passes e finalizações. O nervosismo pode levar também à inibição, à perda da espontaneidade e da criatividade.
Foi o que aconteceu com o Cruzeiro. Todos sabiam que a partida seria difícil, mas não se esperava que o time jogasse tão mal.
Independentemente da qualidade dos adversários, outros clubes brasileiros tiveram a mesma dificuldade psicológica em decisões no Brasil.
Nelson Rodrigues, com seu delicioso exagero, dizia que quem ganha e perde partidas é a alma. O Cruzeiro correu, foi vibrante, mas confuso. Tropeçou na alma.
Evidentemente, não foi apenas por isso que perdeu. O Estudiantes tem um bom time, um craque no meio-campo (Verón) e atuou com inteligência tática.
Cada atleta é de um jeito e reage de uma maneira diferente às emoções de uma partida importante. É preciso separá-los para se ter uma abordagem emocional feita por um psicólogo em um trabalho a médio prazo. Mas a maioria dos clubes só gosta de palestras ocasionais, motivadoras, de autoajuda.
Existem jogadores que crescem na adversidade. São geralmente ambiciosos e perfeccionistas. Isso é fundamental para ser um craque. Outros se inibem quando são vaiados, criticados e enfrentam grandes dificuldades.
Há atletas mimados, que só jogam bem se forem destaques da equipe. Ao lado de jogadores melhores, como em uma seleção, se apagam. Outros preferem ser coadjuvantes. É mais fácil. São os obedientes e cumpridores dos esquemas táticos. Muitos técnicos adoram esses atletas.
Existem ainda os deslumbrados, narcisistas, que se acham melhores do que realmente são. Sentem-se perseguidos pela imprensa, que não daria a eles os elogios que acham que merecem.
Vi atletas calados, tímidos, que ficavam desinibidos e possessos dentro de campo. Vi também muitos falantes e brincalhões, que morriam de medo diante de uma maior responsabilidade.
São apenas alguns dos exemplos. O mais comum é o mesmo atleta possuir várias características, às vezes contraditórias. A alma humana tem muitos mistérios.
Não tenho também nenhuma pretensão de ser um analista comportamental. Sou apenas um curioso, um psicólogo de botequim.
Além do talento, o atleta ideal seria o que jogasse com muita garra, sem perder o controle das emoções; que fosse seguro, confiante, sem perder a autocrítica; e ambicioso, sem perder a consciência de que a força coletiva é essencial para o sucesso individual.
Esse super-homem não existe. Somos todos, uns mais, outros menos, frágeis, incompletos e dependentes da atenção, do carinho e da aprovação do outro.

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