12 de jul. de 2009

Diogo Nogueira: príncipe do Samba, filho de João

O filho de João Nogueira acaba de lançar seu primeiro CD com canções inéditas

Martha Mendonça - Revista "ÉPOCA"


 Reprodução
ESTIRPE
Diogo Nogueira em foto de divulgação e na gravação de seu disco, com Chico Buarque (abaixo)

Em 2007, Diogo Nogueira era uma promessa. Uma lesão no joelho destruíra o sonho de ser jogador de futebol, e ele, que já cantava informalmente, decidiu se profissionalizar. Gravou CD ao vivo com clássicos do samba, fez sambas-enredo vitoriosos na Portela e arrebatou fãs impressionados com a voz perfeita. Dois anos depois, a promessa se cumpriu. Diogo foi disco de ouro já na estreia e lotou salas de espetáculo pelo Brasil e nos Estados Unidos. Ganhou banquinho cativo em produções coletivas da nata do samba. Concorreu no ano passado ao Grammy Latino de Revelação e virou apresentador de um programa de música na TV Brasil. Na visão do estudioso Sérgio Cabral, Diogo já é um dos maiores intérpretes de todos os tempos. “Ele sabe tudo”, afirma Zeca Pagodinho.

Jovem, bonito e festejado – e ponha festejado nisso! –, Nogueira ganhou o apelido de Príncipe do Samba. Agora, acaba de lançar seu primeiro CD de canções inéditas, em estúdio. Trata-se de um disco de grife. A música que dá título ao trabalho, “Tô fazendo a minha parte”, já está tocando com força nas rádios. Outra do novo repertório, “Malandro é malandro e mané é mané”, de Neguinho da Beija-Flor, puxa a trilha da novela das 8. Eduardo Lages, o maestro de Roberto Carlos, fez vários dos arranjos. Com o disco já sendo prensado, Chico Buarque telefonou. “Eu e Ivan estamos com uma música nova que é a sua cara.” Um bom motivo para gritar “Parem as máquinas!”. E a bela “Sou eu”, uma parceria com Ivan Lins, entrou em produção, com direito a Chico como backing vocal.

 Daryan Dornelles

Reza a lenda que Ivan Lins já teria dado “Sou eu” para Simone colocar em seu novo disco, mas Chico teria vetado. Para ele, a música, que fala de um homem seguro que não se importa de a mulher brilhar nos salões (Porém depois que essa mulher espalha/seu fogo de palha no salão/Pra quem que ela arrasta a asa?/Quem vai lhe apagar a brasa?/Quem é que carrega a moça pra casa?/Sou eu) , combinava mais com Diogo.

Para que se possa entender a rasgação de seda para um músico tão jovem, há que mencionar o nome do pai: João Nogueira, morto em 2000, autor de sambas famosos como “Espelho” e “Eu, hein, Rosa”. Um dos grandes compositores de sua geração, corresponsável pelo renascimento do samba de breque, João confere estirpe ao samba do filho. Além da voz, Diogo divide com o pai o carisma e os amigos. Os olhos verdes são originais. Dito isso, seu sucesso pode ser explicado também por uma espécie de ponte que ele representa entre o velho e o novo. A dicção remete ao estilo dos intérpretes mais antigos, enquanto sua linguagem de surfista malandro carioca (ele enfia um “brother” na letra de Chico Buarque), as tatuagens, os anéis e cordões namoram o pop e o rap. “Ele tem um belo caminho não só no samba, mas na música brasileira”, diz o amigo Marcelo D2, que participou de seu primeiro disco. Com talento e o cerco de boa vontade em torno dele, Diogo começou bem. Faz lembrar o verso famoso de seu pai: Mas eu sei que lá no céu o velho tem vaidade/E orgulho de seu filho ser igual seu pai.

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