16 de jul. de 2009

Aos 70 anos, sempre jovem

Moacyr Scliar


O adjetivo "provecto" costuma ser usado para quem chega aos 70 anos, mas certamente não se aplica ao ministro Marcos Vinicios Rodrigues Vilaça, que em 30 de junho último ingressou na categoria dos septuagenários. E não se aplica porque, como comprovarão todos que o conhecem, Vilaça é um exemplo de dinamismo e de bom humor, qualidades às quais alia enorme talento e cultura. O que se traduz numa carreira verdadeiramente impressionante. Pernambucano de Nazaré da Mata e orgulhoso de sua origem, Vilaça formou-se em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco, cursou o mestrado na mesma universidade, e dela foi professor, nas cadeiras de direito internacional público e direito administrativo, lecionando também em outras instituições. A par disto desenvolveu intensa atividade no serviço público brasileiro, tanto na área cultural como na administração propriamente dita: foi diretor da Caixa Econômica Federal, presidente da Fundação Liga Brasileira de Assistência, Secretário do Ministério da Cultura, presidente do Pró-Memória, presidente da Funarte; mais recentemente foi membro (e, em 1995, presidente) do Tribunal de Contas da União, cargo no qual se aposentou. De sua competência e de seus méritos dão testemunho numerosos prêmios e condecorações.

É autor de numerosas obras, das quais se destaca Coronel, coronéis – Apogeu e declínio do coronelismo no Nordeste (1965), escrito em colaboração com Roberto Cavalcanti de Albuquerque, hoje um clássico entre os livros que interpretam o Brasil. Na primeira parte o livro relata a história do coronelismo no Nordeste. A segunda parte, que se inscreve na categoria de estudo de casos, retrata a vida de quatro coronéis nordestinos. Retratos muito reveladores: sobretudo entre os anos 30 e 60, os coronéis detinham de fato o poder no interior do Brasil, indicando juízes e delegados, conduzindo a atividade econômica e até resolvendo questões familiares, numa versão cabocla do patriarcado. O livro, erudito mas redigido em linguagem acessível, teve grande repercussão. Elogiado por figuras respeitadas como Gilberto Freyre, Barbosa Lima Sobrinho e Alberto da Costa e Silva (que escreveu o prefácio da quarta edição), foi traduzido para vários idiomas, espanhol, francês, italiano, inglês.

Em abril de 1985, Marcos Vilaça foi eleito para a Cadeira nº 26 da Academia Brasileira de Letras e, em 2005, tornou-se presidente da instituição. Em sua gestão deu prosseguimento ao processo de abertura cultural da ABL. Pessoas da população participaram então em numerosas atividades, caracterizando uma nova fase da Academia e do Brasil como um todo. O que corresponde ao perfil do próprio Vilaça, homem afetuoso, dadivoso, muito voltado para a vida de família: casado com Maria do Carmo Duarte Vilaça, tem três filhos: Marcantônio (precocemente morto em 2000, ele é muito lembrado nas várias homenagens que a família e instituições têm prestado a seu talento artístico), Rodrigo Otaviano e Taciana Cecília.

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