31 de mai. de 2010


O desabafo dos professores paulistas
Por Maria A. de Paula Rempel
Chico Barreira
Bom dia meu excelente jornalista!

Mais uma vez quero agradecer a oferta de um espaço no se blog para falar de questões referentes ao magistério público paulista.

Confesso que a princípio fiquei feliz pela atenção recebida. Mas num segundo momento, fiquei insegura por dois motivos. Primeiro porque não me considero a altura para escrever a  um jornalista do seu extraordinário talento. Segundo porque não tenho autorização para falar em nome da nossa categoria. Isso cabe à presidente do sindicato dos professores (APEOESP), sra Maria Izabel Azevedo Noronha. Mas, posso falar sobre mim , meu ofício e de todas as mazelas que a categoria vem enfrentando desde que o PSDB assumiu o poder. Como cidadã que faz parte dessa categoria tão sofrida, acredito ter embasamento concreto e legítimo para denunciar os feitos desse partido que tanto prejudicou a todos nós professores.
Ingressei no Magistério Público em 1990. Nessa época, a figura do professor ainda era respeitada e merecia créditos pela sociedade. O professor era ouvido. Isso ocorreu até o PSDB assumir o governo do Estado de São Paulo. Desde então vivemos a decadência da carreira. Arrocho salarial e desvalorização da profissão. Pior, sofremos uma verdadeira campanha, encabeçada pelo PIG contra a nossa categoria. Principalmente pelo Globo e Folha de São Paulo. Esses sempre deram um vasto espaço ao PSDB para que o mesmo ridicularizasse a figura do professor e transferisse a  responsabilidade da decadência da escola pública para o mesmo. Ficamos tão desacreditados que, na minha avaliação, não temos mais respaldo  da sociedade para efetuar uma greve bem sucedida. Greve essa que considero justa  e legítima em todos os sentidos. Hoje nosso salário base chega a dois salários mínimos. Não temos materiais didáticos adequados p/ realizar nosso trabalho e nem o apoio das famílias para acompanhar os estudos de seus filhos. Lições de casa vão e voltam sem serem realizadas.  Fruto da política do PSDB que promove o aluno ano a ano mesmo que ele não esteja preparado a mudar de série. Diante disso, há um comodismo confortável para os pais que necessitando trabalhar e sem tempo para dedicar aos estudos de seus filhos, delegam a escola toda a responsabilidade em educá-los. Há exceções é verdade.

 A coisa piorou  depois que José Serra assumiu o governo do Estado de São Paulo.Governo truculento, autoritário e arbitrário, nunca sentou para conversar com os representantes da categoria.  Não deu aumento nenhum. Criou regras novas que pioram ainda mais a vida do professor. Criou um sistema de avaliação por mérito, onde o professor receberia aumento depois de prestar uma prova e tirar notas boas, mas…apenas  vinte por cento desses receberiam aumento, isso se houvesse recurso disponível. Ou seja, oitenta por cento da categoria ficaria de fora mesmo que passasse na avaliação.

Não sou contra avaliações, sou contra a isso estar atrelado a aumento de salário de maneira discriminatória, o que fere a constituição trabalhista. Penso que primeiro deveria ter um reajuste de salário para repor as perdas salariais de anos, para depois implementar o sistema de avaliação, não para vinte por cento, mas para os cem por cento da categoria, onde todos que fossem bem sucedidos na avaliação, recebessem o tal aumento.

 Outra coisa que vemos diariamente nos meios de comunicação é questão de dois professores em sala de aula. Isso não existe. O que existiu foi a presença de estudantes de pedagogias, enquanto estagiários, em sala de aula e apenas na primeira série. Os mesmos recebiam uma bolsa de estudos do governo enquanto auxiliavam o professor da primeira série. Mas, não havia estagiários em todas primeiras séries e tão pouco nas demais. Na minha escola, por exemplo, existia até o ano passado um estagiário apenas. Hoje não existe nenhum.

O tal bônus de que tanto fala o Serra, de 6 mil reais aos professores, também não é verdadeiro. Talvez diretores, supervisores  até possam ter recebido essa quantia, professor não. Essa propaganda veiculada pelo Globo onde  se diz que os professores receberam bônus e que a educação vai bem é mentirosa. Minha escola por exemplo recebeu cem reais de bônus. Motivo? O ano de 2008 ela ultrapassou a meta estabelecida pela Secretaria de Educação que já era muito alta ,dada a realidade dos nossos alunos que são muito carentes. Foi uma vitória, não apenas pelo bônus, mas pelos nossos alunos. Em 2009  a meta foi elevada pela mesma secretaria, minha escola não atingiu, mas  manteve a mesma meta, não subiu, mas também não caiu. Logo, não merecemos bônus segundo José Serra. Mas… para “ adoçar” a nossa boca, ele mandou cem reais.

Por essa e outras razões sou contra a política de bônus, a favor de salário digno.

Professor deveria ganhar salário digno, pois, tem como responsabilidade formar pessoas, cidadãos críticos e conscientes.  Ninguém se forma médico, advogado ou qualquer outra profissão sem antes passar pela educação fundamental de 1ª a 8ª série e ensino médio. Então eu te pergunto: Por que não valorizar a profissão do professor? Precisamos ganhar bem , freqüentar teatros, cinemas e eventos culturais. Mas como realizar tudo isso c/ um salário ínfimo que mal da para pagar as contas?

 Meu bom jornalista, vou confessar-lhe uma coisa: se hoje tivesse dez anos a menos, mudaria de profissão. Não por falta de prazer em lecionar, mas pelas dificuldades enfrentadas que já viraram rotina no nosso trabalho. Violência, salário precário, falta de incentivo e desmoralização na mídia. Não temos mais o respeito que tínhamos. Isso foi destruído na gestão de José Serra. Até a polícia ele já colocou para atacar os professores que faziam um movimento pacífico, tendo como armas, a palavra e a vontade de trabalhar dignamente.

 Não é atoa e já é do conhecimento de todos que estão faltando professores no país. Principalmente no Estado de São Paulo.

Tenho orgulho em ser professora, mas não aceito essa desvalorização imposta pelo PSDB e Serra. Quero a minha dignidade de volta.

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