4 de mai. de 2010


Noturno - Mário Faustino



Nem uma só verdade resplandece 
Neste verão sonhado por abutres. 
O ano inteiro, o outro ano, e o outro, 
Mentidos pela mímica de um bufo, 
Contam falsas proezas de funâmbulo. 
E os saltos já não podem mais traçar 
O mito que exercemos, a parábola.
Alardes, fugas, flâmulas. Palmeiras 
Partilhando o resgate da beleza 
Das nuvens criadoras de uma estrela, 
De nada mais que uma. O saltimbanco, 
Mirando-se nas poças, rejubila. 
E ressoa na flauta de anteontem 
O repouso de um pântano...
Quanto foste traído! O luar torto 
Raiva no campo aberto onde esta noite 
Um profeta estremece no seu túmulo.

Mário Faustino dos Santos e Silva (Teresina, 22 de outubro de 1930 - Lima, Peru, 27 de novembro de 1962) - Além de poeta foi crítico, tradutor e jornalista. Ficou muito conhecido por seu trabalho de divulgação da poesia no Jornal do Brasil quando assinava o Suplemento Dominical do Jornal do Brasil, na seção Poesia-Experiência. Publicou apenas um livro de poesia O Homem e sua Hora (1955). Morreu prematuramente vítima de um desastre aéreo.

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