5 de mai. de 2010

MICHEL LAURENCE - O REI DOS BOTÕES

“Veja, é uma coisa muito simples. Puxo o meia para trás, mando o centro-avante recuar, os marcadores acompanham, eles são obrigados a acompanhar, a missão deles é essa marcar os atacantes adversários. Aí, abro um buraco na defesa adversária, por onde mando o meu ponta-direita entrar” – e o botão de tampinha ia se mexendo, entrando pelo corredor aberto por seus companheiros.

Você vai dizer que é mentira, mas juro que vi o botão com o número 7 sobre a tampinha, se mexer e correr em direção ao gol. O marcador mal conseguia acompanhar a velocidade de Paulo Borges, o Risadinha, que depois veio defender o Corinthians e ajudou a quebrar o “tabu” contra o Santos.

O meia que vinha para trás era Cabralzinho – uma movimentação que está na minha cabeça até hoje – esse que hoje em dia em técnico; o centro-avante era Ladeira, que hoje é técnico dos times de base do Corinthians.

O ataque era o do Bangu completado por Ocimar e Joel – Aladim e Parada só vieram no ano seguinte, em 1966, quando o Bangu foi campeão carioca com o time montado por Elba de Pádua Lima, o Tim, e dirigido naquela temporada por Alfredo Gonzalez.

“Laurence, você está “vendo” o que estou explicando?”.

- Estou, seu Tim, estou!

- Teu pai – que saudade do que ele escrevia – também gostava de ver como eu armava o time!
E Tim levantava a cabeça sorrindo, a mesinha de centro da sala parecia se transformar em um verdadeiro campo de futebol em miniatura.

Tim sabia falar, prendia a atenção de quem o ouvia.

Os jogadores nunca duvidavam dele. Simplesmente porque nunca levantou a voz para explicar o que queria.
E aí lá de cima sentado na Tribuna de Imprensa do Maracanã, você podia constatar que aquilo que ele tinha dito na véspera não era conversa fiada.

Cabralzinho vinha quase até a linha do meio de campo; Ladeira com a nove 9 era acompanhado pelo número 3 adversário e Paulo Borges mergulhava numa velocidade incontrolável para desespero de seu marcador e do goleiro adversário.

Geralmente tudo isso acabava com a bola dentro do gol do Flamengo, do Vasco, do Botafogo ou do Fluminense.

Eu ficava imaginando o quanto devia ter jogado esse técnico para a época, revolucionário.

O quanto deve ter lhe doído o técnico Ademar Pimenta o ter barrado na maioria dos jogos da Copa de 38, na França, em favor de Perácio, também um bom jogador, mas não do tamanho de Tim.


É bom explicar que Ademar Pimenta técnico da seleção na Copa de 38, também era técnico do Botafogo, do Rio, onde jogava Perácio.

Tim nunca falou sobre isso pelo menos comigo, ele preferia elogiar o Leônidas da Silva, o Diamante Negro; o Romeu Pelliciari, um meia fantástico; o Domingos da Guia, o Divino, pai do Divino Ademir da Guia. E aí quando a conversa descambava, ele desviava do assunto dizendo:

- Preparei um peixe! Quer experimentar?

Tim era um ótimo cozinheiro e ele que era do interior de São Paulo, nasceu em Rifaína, agora vivia em Rio das Ostras, uma cidade praiana, no litoral norte Fluminense.

Aliás, se você for conhecer a linda Rio das Ostras, procure pela Rua Elba de Pádua Lima, o Tim e faça uma bela homenagem em pensamento a esse que foi um dos maiores do Brasil.

Só para você ter uma idéia de quem foi o Tim, ele ganhou o apelido de El Peon, dos argentinos, quando jogou por lá com a seleção brasileira. El Peon para eles é aquele que “organiza e toca a manada” e foi junto com nomes como Pedernera, Di Stéfano, Nestor Rossi, todos argentinos e o brasileiro Heleno de Freitas defender o Milionários, da Colômbia, que tinha formado uma liga pirata e contratava os maiores jogadores sul-americanos sem pagar pelos passes.

- Olha, Laurence, estou pensando em armar um time que toca a bola em velocidade. Ninguém precisa marcar homem a homem, precisa quando a bola está com o adversário, ocupar os caminhos por onde os adversários podem avançar. Você já imaginou a loucura de craques como Zizinho, saindo para o ataque em velocidade.

Bem, esse papo aconteceu em 1966.

Só ouvi essas mesmas coisas agora recentemente.

Tim morreu jovem, em 1984, aos 68 anos, no Rio de Janeiro.





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