25 de mai. de 2010


Louco (Hora de Delírio) 


Junqueira Freire



Não, não é louco. O espírito somente 
É que quebrou-lhe um elo da matéria. 
Pensa melhor que vós, pensa mais livre, 
Aproxima-se mais à essência etérea.
Achou pequeno o cérebro que o tinha: 
Suas idéias não cabiam nele; 
Seu corpo é que lutou contra sua alma, 
E nessa luta foi vencido aquele,
Foi uma repulsão de dois contrários: 
Foi um duelo, na verdade, insano: 
Foi um choque de agentes poderosos: 
Foi o divino a combater com o humano.
Agora está mais livre. Algum atilho 
Soltou-se-lhe o nó da inteligência; 
Quebrou-se o anel dessa prisão de carne, 
Entrou agora em sua própria essência.
Agora é mais espírito que corpo: 
Agora é mais um ente lá de cima; 
É mais, é mais que um homem vão de barro: 
É um anjo de Deus, que Deus anima.
Agora, sim — o espírito mais livre 
Pode subir às regiões supernas: 
Pode, ao descer, anunciar aos homens 
As palavras de Deus, também eternas.
E vós, almas terrenas, que a matéria 
Os sufocou ou reduziu a pouco, 
Não lhe entendeis, por isso, as frases santas. 
E zombando o chamais, portanto: - um louco!
Não, não é louco. O espírito somente 
É que quebrou-lhe um elo da matéria. 
Pensa melhor que vós, pensa mais livre. 
Aproxima-se mais à essência etérea.

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