4 de mai. de 2010

blog do noblat


CARTAS DE BUENOS AIRES


Al Colón!



Em Buenos Aires, quando um cantor é muito bom, a platéia grita: al Colón, al Colón!
É uma metáfora para dizer que devido ao nível de excelência do espetáculo apresentado, só há um palco na cidade à altura do artista.
O problema é que esse palco estava fechado.
Agora, após três anos de restauração, há um grande frisson em torno da reabertura do Teatro Colón, no próximo dia 24, como parte das comemorações do Bicentenário da Revolução de Maio. Em cartaz, de La Bohème, de Puccini, e O lago dos Cisnes, de Tchaikovsky.
A restauração do Colón foi um trabalho titânico. Envolveu cerca de mil obreiros, em torno de 50 empresas, pelo menos 100 milhões de dólares e 58 mil metros quadrados de obras.
E também, é claro, muita, muita polêmica. A reforma foi suspensa, depois retomada, e sobreviveu a crises, a prefeitos, a boatos, a maus tratos.
A confusão ainda não terminou. Para não deixar a presidente Cristina Kirchner colher os louros, o prefeito Maurício Macri antecipou em um dia a reabertura do teatro, que inicialmente ocorreria dia 25 de maio, em conjunto com os outros atos oficiais do Bicentenário.
O Colón, no entanto, é muito maior que as picuinhas da política.
O teatro foi inaugurado em 1908, depois de 18 anos de construção. Segundo o jornal La Nación, um engarrafamento de carruagens atrasou o espetáculo em uma hora!
Desde então é considerado por especialistas como um dos três melhores do mundo, especialmente por sua boa acústica. Taco a taco com ele, dizem que rivalizam somente 
o Scala de Milão e a Ópera de Viena.
Por seu palco passaram as principais estrelas da ópera, como Enrico Caruso, Plácido Domingo, José Carreras e Luciano Pavarotti, para citar os nomes mais conhecidos.
Tudo no Colón é mega. O teatro tem sete andares e ocupa um quarteirão inteiro. Foi construído com mármore de Carrara, de Verona e rosado de Portugal.
A platéia tem capacidade para 2.500 pessoas, o palco mede 35 metros de abertura e 34 de profundidade e o poço da orquestra é para 120 músicos. Abriga, ainda, um lustre gigante, de sete metros de diâmetro, com 700 lâmpadas e peso de duas toneladas e meia.
O desafio da restauração foi manter os detalhes originais e, ao mesmo tempo, incorporar novas tecnologias.
Então, se por um lado os camarins ganharam monitores que reproduzirão tudo o que se passa no palco e outras modernices, por outro foram mantidas raridades, como o material do interior das cadeiras, feito de uma mistura de crina de cavalo, algodão e lã.
Também continuam lá os antigos "palcos de viúva" – camarotes através dos quais mulheres desacompanhadas podiam assistir aos espetáculos, mas não eram vistas pelo resto do público.
E, ainda, a cortina de veludo original do palco, confeccionada em 1936. Ela foi retirada, limpa e recolocada, em um processo que durou cinco meses. Cada um dos lados mede 360 metros quadrados e pesa 700 quilos.
A má noticia é que vai ser quase impossível conseguir ingressos para a temporada deste ano. Estão praticamente esgotadas as entradas para os 183 espetáculos da temporada.
A boa nova é que o subsolo do Colón é animadíssimo! E está aberto para visitação!
Por baixo da Avenida 9 de Julio há cerca de 20 mil pares de sapatos, cenários, figurinos e instrumentos musicais, além de uma reprodução em tamanho real do palco para ensaios do corpo de baile do teatro.
Enfim, o Lado B do Colón.
Tudo o que dá vida ao teatro que homenageia o descobridor da América no nome.

Gisele Teixeira é jornalista. Trabalhou em Porto Alegre, Recife e Brasília. Recentemente, mudou-se de mala, cuia e coração para Buenos Aires, de onde mantém o blog Aquí me qued (http://giseleteixeira.wordpress.com), com impressões e descobrimentos sobre a capital portenha.

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