27 de abr. de 2010

Capa Folha de S.Paulo - Edição São Paulo
EUA desaconselham viagem ao Guarujá
País pede que turistas evitem também ir a Santos, Praia Grande e São Vicente após onda de assassinatos na região
Comunicado foi enviado por órgão que é referência para agências de turismo; governo paulista diz que situação está sob controle

JOSÉ ERNESTO CREDENDIO – FOLHA SP

DA REPORTAGEM LOCAL
O órgão do governo dos EUA responsável pela segurança de seus cidadãos no exterior recomendou, em comunicado, que os norte-americanos “evitem viajar” para quatro das maiores cidades do litoral paulista -Santos, Guarujá, São Vicente e Praia Grande- até que a onda de violência da última semana esteja encerrada.
O comunicado do Osac (Conselho Assessor de Segurança no Exterior), ligado ao Departamento da Defesa dos Estados Unidos, é baseado em informações coletadas pelo Consulado em São Paulo.
Em nota, a Prefeitura de Santos afirmou que “a vida na cidade transcorre dentro da normalidade”. A Secretaria da Segurança Pública de SP declarou que a situação nas cidades citadas “está sob controle”.
Além de ser veiculada no site do Osac, a nota é distribuída a todos os cadastrados no órgão, como agências de viagem.
A última vez em que o órgão fez um alerta semelhante sobre cidades paulistas foi em 2006, após a segunda onda de ataques do PCC, quando recomendou aos americanos evitar “viagens desnecessárias” para o Estado.
O novo comunicado se baseia em informações da polícia e em notícias de jornais sobre a série de mortes ocorridas na semana passada. Seis pessoas foram assassinadas em três dias no Guarujá -para efeito de comparação, a cidade teve 53 vítimas de homicídio em 2009, ou menos de cinco por mês.
Com medo da violência, comerciantes baixaram as portas. Aulas em escolas e em uma universidade foram suspensas.
Hipóteses
Entre as motivações para os crimes investigadas pela polícia, estão ações do PCC e disputa entre gangues locais.
Na primeira hipótese, a suspeita é de que a facção tenha se vingado após a morte de um membro e a prisão de outro, em confronto com a polícia.
Os mortos no Guarujá, a tiros de fuzil e pistola, incluem um policial, o parente de um PM e um mecânico que trabalhava para a Polícia Civil.
Foram mais de 20 assassinatos na região até sexta-feira, alguns com características semelhantes -como autor dos disparos em garupa de moto.
Para o coronel da reserva da PM José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança Pública, o comunicado do governo dos EUA “desmoraliza” o sistema de inteligência do país. “O que ocorreu foi um episódio, nada mais”, avalia.
Medo da violência já afeta rede hoteleira
Segundo entidade do Guarujá, turistas cancelaram reservas no fim de semana
Setor empresarial nega perigo e diz que temor se deve à falta de informações, já que os crimes ocorreram na periferia da cidade
Almeida Rocha/Folha Imagem
bala
Marca de bala no local onde Alessandra Madeira, 29, foi morta a tiros por um homem na madrugada da última sexta, em Santos


MÁRCIO PINHO – FOLHA SP

DA REPORTAGEM LOCAL
Mesmo antes de o governo dos EUA divulgar comunicado recomendando que os americanos evitem viajar para o litoral paulista, a rede hoteleira do Guarujá já sentia os efeitos da repercussão dos casos de violência na cidade.
Segundo Ricardo Roman Junior, presidente do Guarujá Visitors Convention Bureau, turistas cancelaram reservas e deixaram os hotéis praticamente vazios no último final de semana, apesar do tempo bom.
Ele cita o seu hotel, o Delphin, na praia da Enseada, onde a ocupação dos quartos ficou em 20% -costuma variar entre 40% e 50% nesta época do ano.
Para ele, tanto o temor dos turistas quanto o alerta do governo dos EUA são atitudes tomadas “sem informação”. “Os crimes foram na periferia, longe da zona turística”, disse. Os seis homicídios ocorridos no final de semana anterior foram em Vicente de Carvalho, distrito de Guarujá, distante da orla.
Para Roman Junior, apesar de apenas 10% dos turistas do Guarujá serem estrangeiros, a medida é prejudicial, pois chama a mídia novamente para um fato negativo sobre a cidade.
O alerta feito pelos EUA prejudica o turismo como um todo, na opinião do presidente da Associação Empresarial e Comercial do Guarujá, João Marcelo Stuque. “Turistas podem achar que essa informação tem fundamento, quando não tem.”
Entre os moradores das regiões mais turísticas do Guarujá, as reações foram diferentes. A estudante Elizabeth Medeiros, 28, moradora da Enseada, diz que só foi à aula pela presença. “Vários colegas e eu voltamos logo para casa porque havia o boato do toque de recolher. Estávamos com medo.”
A também estudante Giovana Mangini, 23, diz que não ficou assustada porque acreditava que a violência não chegaria a seu bairro, o das Astúrias.
O prefeito de Santos, João Paulo Tavares Papa (PMDB), afirmou, por meio de nota oficial, que os casos de violência dos últimos dias não representam risco para moradores ou turistas. “A Prefeitura de Santos entende que a nota divulgada pelo Consulado dos Estados Unidos não se justifica.”
Já a prefeita do Guarujá, Maria Antonieta de Brito (PMDB), não comentou.
Depois do toque de recolher na periferia do Guarujá após as mortes, boatos se espalharam em Santos e Praia Grande na última sexta de que essas cidades também seriam alvo de toque de recolher, o que não ocorreu.
De acordo com o delegado titular do 2º DP de Guarujá, Josias Teixeira de Souza, ainda é cedo para estabelecer relações entre os crimes no Guarujá e nas outras cidades.

Colaborou JOSÉ ERNESTO CREDENDIO, da Reportagem Local

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