25 de mar. de 2010


Desandou



Nada mais dá certo na vida de Sarkozy. De repente, não mais que de repente, o superstar-presidente minguou, deixando em seu lugar apenas uma sombra do todo-poderoso que ele tentou ser.
Lembra?, há pouco mais de um ano, ele desfilava por aí de presidente da União Europeia, respondendo brioso em nome de todo o continente, se acreditando habilíssimo e peça fundamental para o jogo político internacional.
Pois o tempo passou bem rápido. Reformas que não decolam, greves, popularidade em baixa... o péssimo resultado de seu partido nas eleições regionais no domingo passado foi a cereja no amargo bolo que Sarkozy está sendo obrigado a engolir.
Cinco dos ministros sarkozistas que saíram candidatos perderam a batalha nas urnas. Das vinte e duas regiões do chamado hexágono - o território francês descontados os territórios ultra-marinos - a UMP só conquistou a presidência da Alsácia. É a segunda melhor performance da esquerda em toda a quinta República.
Desde o resultado das eleições, senadores e deputados da maioria governista não têm evitado seus diagnósticos, via twitter e blogs. "Menos reformas e mais mudanças"."O presidente diz que a abertura é pacificadora, mas tudo é questão de medida - mesmo para a abertura".
Pois Sarkozy não parece muito disposto a ouvir conselhos - nem das urnas, nem de sua cozinha. Ontem, na saída da reunião do conselho de ministros, quando ele não costuma falar com a imprensa, o presidente decidiu convocar uma coletiva - para dizer que nada muda.
Reforma nas aposentadorias, taxa de controle de emissão de carbono, interdição do uso da burca em território nacional - todos os temas polêmicos com os quais seu governo vem se batendo há meses sem conseguir avançar.
"Nada seria pior do que mudar completamente de rumo, cedendo à agitação própria de períodos eleitorais", disse ele.
Pior: enquanto ele vai mal, seu primeiro ministro goza de uma popularidade poucas vezes vista. Na primeira reunião UMP pós-eleições havia mesmo gritos de "Fillon presidente" no salão.
O ciúme resultante da situação chegou ao ponto de Sarkozy mandar cancelar uma entrevista que François Fillon daria no telejornal das 20h de ontem, o mais assistido do país. A entrevista estava marcada há dias e foi cancelada em cima de hora.
"Compromissos de agenda", desculpou-se o gabinete do primeiro ministro. "O presidente não quis concorrência para sua declaração desta tarde. Em suas palavras: só um fala", explicou ao Monde um ministro do governo.
Não sei o que é pior: se esse pacote completo no governo ou se voltar para casa - onde não descansam os rumores das traições mútuas no casamento com Carla Bruni.

Carolina Nogueira é jornalista e mora há dois anos em Paris, de onde mantém o blog Le Croissant (www.le-croissant.blogspot.com)

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