20 de fev. de 2010

"carta capital", edição 19 de fevereiro de 2009

Carlos Leonam e Ana Maria Badaró




O sucesso do Carnaval do Rio com seus mais de 400 blocos, ditos alternativos, já desperta para a competição. Foi melhor que o de Salvador, começam a dizer. As autoridades divulgam suas contas. Parece que o Rio ganhou em número de foliões, inclusive gringos, que se esbaldaram na rua. Já circula por aí que a cidade agora tem o título de “o maior Carnaval popular do País”.

O Rio não é mais aquele cuja festa se resumia ao desfile das Escolas de Samba e cujas ruas e praias ficavam quase vazias para deleite dos não foliões. Os blocos cariocas cresceram, principalmente nos bairros da Zona Sul, se organizaram e ganharam apoio oficial. O metrô, cruzando subúrbios, chegou a Ipanema, fazendo do bairro neste fevereiro a 50 graus uma irresistível combinação de mar e samba. O resto é fenômeno de massa.

Pode apostar que em 2011 haverá muito, muito mais gente seguindo os blocos . E os novíssimos foliões se agregarão vindos de todos os bairros e cantos do País, pelo que se lê em promessas tuitadas.

Com isso, os trios elétricos baianos podem sofrer um esvaziamento, natural até, depois de anos seguido de um apelo até imbatível especialmente para os jovens. Com isso, o Carnaval de rua do Rio, renascido das cinzas, se arrisca a ficar grande demais.

Uma boa idéia para quem quer sossego é, como dizem os baianos, se ”picar” para São Paulo, onde ainda falta fundar blocos de Carnaval que cruzem a Ipiranga com a Avenida São João.
Amargo retorno

Fomos conferir a velha Banda de Ipanema no sábado, véspera do tríduo momesco. Tudo quase civilizado, atrás do bloco que fechou com cordão policial e com um caminhão de cerveja vendendo a latinha a dois reais. A idéia, o preço e a presteza agradaram. O desfile acabou, mas o quesito transporte deu nó com a manutenção da Visconde de Irajá fechada feito calçadão.

Quem não morava em Ipanema voltou para casa a pé, coisa de alguns quilômetros, por exemplo, para quem vive no Leme. A alternativa era esperar muito pela volta à normalidade dos ônibus e poucos táxis na praça (por que é que os taxis, formigas do cotidiano urbano, desaparecem das ruas exatamente em dias de maior demanda, como no Ano Novo e no Carnaval?). Com trens poucos para a vazão da horda foliã, a entrada de passageiros na recém- inaugurada estação General Osório teve de ser contingenciada. Um inferno.

A multidão em busca de rumo era comparável com a que invade as ruas em noite de réveillon. Quem não tinha pressa podia se sentar no meio fio e, entre umas e outras, lembrar que o Carnaval estava só começando.
Água no joelho 
Mijão deixou de ser palavra deselegante. E o sujeito mijão virou personna non grata para a população. Houve relativamente poucos insubordinados. A maioria homens, se não acabou detida pela dona Justa era acusada pelos passantes de ter aquilo pequeno. Impossível gozação melhor.
Nariz imoral

Entre asinhas de anjo, plumas, máscaras, flores, colares havaianos, um acessório chamava a atenção no meio dos foliões de rua. Não era o conhecido nariz de palhaço, nem o manjado narigão sobre um bigodão. Era um nariz, como sempre acoplado a uma armação de óculos, em forma de pênis. O troço de mau gosto, autêntico made in China, ainda se dava ao luxo de acender na ponta e era vendido a rodo nos camelôs da Avenida Atlântica a R$ 15. Um ambulante disse que mulher também comprava... Mas nas ruas só marmanjos sem noção vestiam o nariz na maior cara de pau.

No mais, parabéns bem cariocas para a Unidos da Tijuca, que, depois de 76 anos subindo e descendo, conquistou o primeiro lugar no desfile das Escolas das Samba do Rio. E com inteira justiça. Há alguma coisa nova na passarela da Sapucaí. As letras para os enredos, porém, na maioria dos casos, continuam sendo um versão 2010 do Samba do Crioulo Doido do saudoso Stanislaw Ponte Preta. Evóé, Momo! 

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