27 de jul. de 2009


Morreu ontem em São Paulo o ator Sergio Viotti

Ele era conhecido mais por seu trabalho na televisão e lamentava não haver dedicado mais tempo ao teatro; sua última participação foi na novela Duas Caras


O ator Sergio Viotti morreu ontem, aos 82 anos, de parada cardiorrespiratória, segundo informações do Hospital Samaritano, em São Paulo, onde estava internado desde 19 de abril. O corpo deverá ser cremado hoje, às 9 h, no Cemitério de Vila Alpina.

Sergio Viotti, nascido sem São Paulo em 1927, sempre sentiu grande atração por papeis que não lhe dessem apenas prazer, mas o desafiassem. Só assim, acreditava, tais personagens, cheios de contradição e conflitos, a exemplos dos seres humanos de carne e osso, poderiam lhe ensinar alguma coisa. E, com toda a sua modéstia característica, ainda era capaz de suspirar: "Espero ter aprendido."

Viotti ganhou reconhecimento por sua extensa trajetória na televisão em detrimento do teatro, escolha que por vez ou outra lamentava. "Sempre acho que fiz pouco teatro. Primeiro porque as peças ficavam muito tempo em cartaz e, segundo, porque estive durante muitos anos mais ligado à televisão", explicou ele em no livro O Cavalheiro das Artes, escrito por Nilu Lebert, da Coleção Aplauso (2004, Imprensa Oficial).

Seu último papel na TV foi Manuel de Andrade Couto na novela Duas Caras, que terminou em maio do ano passado. Antes disso, participou da minissérie JK, de 2006, de Alcides Nogueira e Maria Adelaide Amaral, uma de suas grandes amigas. A dupla se conheceu em 1981 numa festa a fantasia promovida por Sabina de Libman, em homenagem aos 100 anos de Pablo Picasso. "Enrolei-me num imenso xale espanhol e me apresentei como Olga Koklova. Sergio, com aquela boina, suponho que era o próprio Picasso", relembra a dramaturga na apresentação de sua biografia.

Maria Adelaide, porém, já se sentia familiar de Viotti muito antes de conhecê-lo pessoalmente: "a voz de Deus", como o apelidou o diretor André Bukowinski, foi diariamente ouvida por ela no radinho de pilha de casa. Entre os anos de 1958 e 1977, Viotti foi o responsável não só pela direção artística da Rádio Eldorado, como pela apresentação de programas especiais voltados à cultura, especialmente as artes cênicas. Trouxe consigo toda a bagagem acumulada em oito anos de serviços prestados à América Latina pela BBC londrina. Na capital inglesa, gravou radionovelas, dirigiu espetáculos, escreveu críticas de dança e ópera, conviveu com escritores promissores.

O seu retorno ao Brasil ocorreu quando Viotti se deu conta de que já havia absorvido tudo o que a Inglaterra poderia ter-lhe oferecido. Quando pisou na terra que havia deixado há nove anos, sentiu-se um "pato n?água". "Os amigos que eu deixara aqui já estavam ocupando lugar de destaque no cenário artístico. Todos eram ?alguém? ou, pelo menos, estavam bem encaminhados, enquanto eu não passava de um imigrante no meu próprio país", lamentou. Foi dizer isso para ótimas surpresas se renderem ao seu talento, ainda que afirmasse não ser merecedor do que já estava reservado. Graças justamente a esses bons e velhos amigos bem colocados no mercado, Viotti recebeu inúmeros convites. O primeiro deles veio da atriz Maria Fernanda que o chamou para escrever um seriado, considerado embrião das minisséries, para o programa Revista Feminina, de Maria Tereza Gregori, no início da década de 60. Batizado de Um Amor em Nossas Vidas, é considerado o seu primeiro trabalho para a televisão.

Como nunca teve medo de trabalho, Viotti levou numa boa sua atuação paralela como crítico, ensaísta, diretor e eventualmente ator, profissão que mais tarde transformou-se no seu mais saboroso ganha-pão. Sempre valorizou os prêmios, como o Molière em 1967, por Queridinho, e o Shell em 1992, por A Volta ao Lar, por acreditar que eles trazem segurança sem deixar de "alterar a nossa essência". Sempre achou que o melhor lugar do mundo é a sua casa. Sempre detestou três coisas na vida: acordar cedo, dor de barriga e resfriado.


Frases

"Para mim, tudo é milagre. Uma criança que nasce é milagre, uma flor é milagre, a televisão é uma coisa milagrosa, computador então nem se fala! Nós somos uma coisa milagrosa. Não que eu seja uma pessoa mística, mas o misticismo roça na minha pele."

"Devo admitir que há plateias burras. E plateias de uma inteligência aguçada, ávidas de querer gostar. Essas são o sonho de todos nós."

"Não importa onde eu esteja vivendo, para mim o melhor lugar do mundo é a minha casa."

"Quando me perguntam o que eu acho que é a morte, sempre digo que a morte é o fim de todas as perguntas. É a hora em que você diz: Ai, meu Deus, então era isso?"


Cronologia

TEATRO


Tudo no Jardim (1969)

O Estranho Caso de Mr. Morgan (1972)

Os Amantes (1978)

A Estrela do Lar (1989)

Baile de Máscaras (1991)

TELEVISÃO

Sinhá Moça (1986)

Corpo Santo (1987)

Primo Basílio (1988)

Suave Veneno (1998/99)

Os Maias (2001)

A Casa das Sete Mulheres (2003)

JK (2006)

Duas Caras (2007)

PREMIAÇÕES

- Prêmio APCA de melhor ator pelas novelas Corpo Santo e A Herdeira

- Prêmio Shell (1992), de ator por Volta ao Lar

- Prêmio ABCT (1971) de

ator coadjuvante por My Fair Lady

- Prêmio Molière (1967), de ator por Queridinho

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