16 de jul. de 2009

cartas de paris

Pequeno dicionário de restaurantes parisienses

Comer bem é uma das melhores partes de uma viagem a Paris. A capital do país da gastronomia mais famosa do mundo oferece uma oferta incrível de boas opções de restaurantes, cafés e afins – e ter um guia nas mãos nem sempre é fundamental para se dar bem. Qualquer passeio em uma rua aleatória pode reservar boas surpresas. Inevitáveis, no entanto, são as dúvidas que surgem ao começar uma aventura exploratória desta natureza.

Afinal de contas, o que é um bistrô? E por que um café chama-se café se muitas vezes a gente pode almoçar nele? Quais as diferenças entre todas essas categorias gastronômicas? O tema é complicado mesmo para os franceses – e como as categorias têm sofrido adaptações com o passar do tempo, a complexidade só tende a aumentar. Mesmo assim, algumas referências não mudam.

Por exemplo, o horário de funcionamento. A primeira regra dos restaurantes franceses é que eles só funcionam na hora das refeições. Restaurantes normalmente abrem as portas ao meio dia e recebem os últimos clientes do almoço às duas ou duas e meia. Às três da tarde, as portas estão fechadas. O restaurante reabre às seis da tarde e o horário de encerramento varia muito, embora os mais clássicos recebam a última comanda invariavelmente às nove da noite.

E o que fazer se você toma café da manhã bem tarde e só tem fome lá pelas quatro horas? Opção é o que não falta. Aí entram em cena as brasseries e os cafés. As primeiras, que podem ser traduzidas literalmente como cervejarias, têm sempre um menu fixo bem razoável e uma seleção de pratos do dia. Normalmente, eles são menos caros que os restaurantes e oferecem um pequeno panorama (meio óbvio) da cozinha francesa tradicional: oeuf-mayonnese, magret de canard, tartare de boeuf, saladas, um peixinho com arroz.

Também é possível pedir toda a gama de sanduíches típicos franceses, da baguete com patê (rillette) ao croque-monsieur, que é um misto-quente mais caprichado. O serviço é contínuo, ou seja, é possível pedir ao longo de todo o dia. E claro: para fazer jus ao nome, a brasserie é o lugar certo para se tomar um chope.

Os cafés normalmente têm uma boa carta de bebidas quentes, como chocolates, chás e, obviamente, cafés, além de uma ou duas opções de pratos do dia e sanduíches. Para o francês, não é raro almoçar em um restaurante e depois sair para tomar o cafezinho em um café nas redondezas – cada coisa no seu devido lugar. Já os bares, que normalmente só abrem no final da tarde, dificilmente oferecerem opções de jantar. Além das bebidas alcoólicas, há normalmente dois tipos de tira-gostos: prato de queijos ou prato de frios. Dependendo do bom humor do garçom, a bebidinha pode vir acompanhada de uma mini-porção (gratuita) de amendoins, azeitonas ou biscoitinhos.

Quem merece um capítulo à parte são os bistrôs. Eles nasceram como estabelecimentos familiares: a mulher no caixa, o marido cozinhando, um filho como garçom e assim por diante. Hoje nem sempre isso funciona assim, mas a marca registrada do bistrô é servir uma comidinha de casa, com o que há de melhor e mais fresco. Não é raro encontrar nos menus pratos como “peixe do mercado” ou “confit de tomates da feira” – significa que o dono da casa escolheu o melhor peixe que encontrou no marché de manhã cedo, ou os tomates que estavam mais fresquinhos, para fazer o prato do dia. Em um bistrô é onde mais vale a regra de falar baixo e esperar o garçom indicar a melhor mesa para cada cliente – afinal de contas, ali é a casa deles.

Por último, o traiteur: é o que a gente conhece como delicatessen. Um lugar que vende comida pronta, a quilo, que você leva para comer em casa. Ultimamente têm aparecido umas mesinhas aqui e outras ali, principalmente nos traiteurs de comida oriental – mas em tese eles não foram concebidos para isso.

São tantas categorias, para todo tipo de bolso, que não há como não comer bem. Aos que planejam se juntar os muitos brasileiros que tenho visto nas ruas de Paris nos últimos dias, boa viagem – e bon appétit!

Carolina Nogueira é jornalista e mora há dois anos em Paris, de onde mantém o blog Le Croissant (www.le-croissant.blogspot.com)

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