15 de jul. de 2009

BBC Brasil

Quem esperma sempre alcança

ivan lessa

A ciência não pode parar. Ela vive correndo. Como se disputasse uma maratona com a humanidade. Não há dia que passe que a ciência não dê mais uma corridinha em direção... em direção a quê? Não se sabe. Pouco importa.

Como nas maratonas e outros esportes, o importante é competir. Lá está ela de novo se preparando para mais uma volta olímpica. Desta vez, foram ao busílis da coisa. Estão mexendo com aquilo que, desde o primeiro filme do monstro criado pelo Dr. Frankenstein, ficou provado, para qualquer cinéfilo ou mero espectador interessado, ser mais do que desaconselhável: tentar criar vida artificial. Corrijo-me, vida de verdade. Vida pra valer. De artificial, bastam as flores e frutas que pessoas pobres e de gosto dúbio gostam de botar em cima da mesa.

Cientistas revelaram que, pela primeira vez, células-tronco foram usadas para a criação de esperma sintético. Genuíno, quase. Que um leigo ou uma leiga não saberiam dizer se há diferença entre um e outro. Feitos esses adoçantes artificiais que de uns anos para cá podem ser encontrados nas boas farmácias do ramo. Sem entrar em detalhes (embora louco para entrar em detalhes), a notícia levanta as mais doidas, as menos criteriosas possibilidades. Estamos em pleno mundo da ficção científica. Philip K. Dick, chega-te pra lá. Eu e você, companheiro, tornamo-nos, assim sem mais nem menos, de um dia para o outro, absolutamente dispensáveis. Num futuro não muito distante, bastará à senhora ou senhorita chegar no devido estabelecimento comercial - e alguém tem dúvida de que o precioso sêmen será prontamente industrializado? - e fará suas compras. Já entreouço o diálogo:

- Moço!

- Pois não, minha senhora.

- Senhorita, se faz favor.

- Perdão. Senhorita.

- É aqui que tem esperma pra vender?

- Precisamente. Mas nós preferimos chamar de "Preparado X".

- Eu gostaria de ver um.

- Ver não dá. Posso apenas mostrar alguns resultados e os depoimentos de clientes satisfeitas.

- Ocá. Taca ficha.

- O "Preparado X" não pode ser tacado nem tem ficha. Ele é aplicado na feliz compradora aqui mesmo. Num desses cubículos à sua esquerda. Aliás, cubículos de luxo dispondo das mais modernas facilidades.

- Leva tempo?

- Uns nove meses.

- Eu digo, para fazer a... a... aplicação.

- Absolutamente. Dez minutinhos e, em menos de um ano, a senhorita terá o bebê que preferir seu, todo seu e de mais ninguém.

- É caro?

- Pouquinho. Mas compensa.

- Dão garantia?

- Só de parto. Garantimos a sopa genética. Depois, é com a senhorita e a vida.

- A gente pode escolher o... ahn ... sexo do bebê? E algumas características de sua personalidade?

- Com toda certeza. No momento, as meninas estão tendo mais saída que os meninos. Quanto às características pessoais, perto de 60% do escolhido é tiro e queda, se me perdoa a expressão.

- Então tá. Eu vou querer uma menina. Loirinha. Mais para a engraçadinha que a gostosona. Nem muito burra nem muito inteligente. Assim-assim. Que dê para o gasto. Mais para a virtuosa que a fútil. Religiosa só um pouquinho. Bem dotada nas prendas domésticas. Que goste de cinema, rock e esportes, com preferência no tênis. Que...

Sou capaz de jurar que já tem gente - senhoras e senhoritas, sem dúvida - querendo saber quando é que a novidade chega à praça.

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