18 de abr. de 2009

carta ao dr. delegado das Perdizes





Prezado Dr. Barbosa,

Estudando o rumoroso caso Cristian, o novo "malfeitor" das Perdizes e adjacências, lembramo-nos do primeiro samba gravado, lá no longínquo 1.917.

"Pelo Telefone", de Donga, com letra de Didi da Gracinda e Mauro de Almeida, faz uma inteligente crítica a um colega seu do Rio de Janeiro. Cantam os sambistas:

“O Chefe da Polícia
Pelo telefone
Manda-me avisar
Que na Carioca
Tem uma roleta
Para se jogar”.

Para quem não sabe, o samba lança referência a um episódio de 1.913, quando jornalistas de "A Noite" instalaram uma roleta no Largo da Carioca, e assim demonstraram que o chefe local da polícia fazia vista grossa à jogatina.

O samba deu pano pra manga e a letra inicial foi até mudada para "O Chefe da Folia", para que os artistas não mais sofressem perseguições dos homens da lei.

Passadas nove décadas, os brasileiros imaginavam que o bom senso pudesse regular as atitudes da autoridade pública. Ainda mais quando tratamos de Perdizes, bairro tão calejado por arbitrariedades da turma fardada.
Em Setembro de 1977, por exemplo, pouco antes do Corinthians encerrar seu jejum de 22 anos, a PUC-SP, sua vizinha, foi invadida pelos policiais capitaneados pelo Coronel Erasmo Dias.

Apenas por discutir os rumos do país, num pacífico encontro estudantil, 700 brasileiros foram presos, 32 enquadrados na LSN, dezenas foram espancados e quatro moças foram severa e covardemente queimadas pelas bombas de fósforo branco.

Isso tudo aí do seu lado, na rua Monte Alegre.

Em 1.986, já depois do pesadelo da Ditadura Militar a polícia invadiu novamente a PUC-SP, desta vez para impedir que os estudantes assistissem a um filme, sim, a um filme, o polêmico Je vou Salue, Marie. Mais pancadaria...
Também foi aí, na sua vizinhança, que as forças do atraso atearam fogo duas vezes ao TUCA, teatro marco da redemocratização do país. E os homens da lei jamais encarceraram esses meliantes.

***

Agora, muito recentemente, no mesmo estádio Paulo Machado de Carvalho, o Sr. Marcelo Teixeira e seus “assessores” protagonizaram inúmeros atos de vandalismo, testemunhados e gravados por inúmeros telespectadores.

Teixeira atirou objetos contra a torcida adversária, como uma lata de Coca-Cola (cheia), xingou os torcedores e, com ajuda de um meio-irmão, tentou quebrar o vidro da tribuna.

Sr. Barbosa, pasme, mas minutos antes, abaixo do tal vidro, encontrava-se o piloto Rubinho Barrichello, com o filho pequeno.
Deus, que é pai, tirou o corredor de lá a tempo. E mais, sabe-se lá como, impediu que o tal vidro tombasse em cacos sobre as famílias que se encontravam nas numeradas.

Obviamente, a massa presenciou os fatos, e isso certamente contribuiu para acender a ira dos derrotados santistas.

Infelizmente, no entanto, nenhuma autoridade do 23. DP se pôs a investigar as traquinagens do dirigente santista.

Então, perguntamos: se todos são iguais perante a lei, será que alguns são mais iguais que outros?

Ou será que é porque Marcelo Teixeira é de família nobre, cartola e branco?

Pois, ao contrário, o agora “enquadrado” Cristian é de família humilde, jogador de futebol do time do povo e mestiço...

Então, Sr. Delegado, qual a medida da justiça?

Perdizes-Pacaembu é, sabe-se lá por quais energias, área de inúmeras ocorrências injustas que envergonham os brasileiros.

E mais, ainda sofre com os bandidos comuns, esses que roubam carros, invadem residências e assassinam pais de família.

Então, o que explica tanta energia e dinheiro público gasto num rigor que só faz bem aos holofotes da mídia?

Nosso garoto bom de bola, no calor da luta, foi apenas malcriado.

Que sua mãe lhe passe o pito.

As autoridades que cuidem da Segurança Pública e, assim, escapem do escárnio de mais um samba.

Com respeito e admiração,


blog do "citadini"

Um comentário:

  1. Não a mãe, mais nele deveria ser passado o pito, quer dizer o pinto, o mesmo que ele mostrou...

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