31 de mar. de 2009

boni escreveu

Há dois tipos de hipocondríacos, o Hipocondríaco I , que se enche de remédios sem consultar os médicos e o Hipocondríaco II que enche os médicos para tomar remédios. Eu, antes de mais nada, me declaro absolutamente contra a auto-medicação, mas confesso que sou hipocondríaco do tipo I e do tipo II. E pior : eu tenho até registro no CRC. Não, não me enganei. Não é CRM, que seria o registro no Conselho Regional de Medicina, e sim CRC que é o registro no Conselho Regional de Charlatanismo. Sou um Charlatão assumido. Não pratico medicina ilegal, mas dou palpites em tudo o que os médicos dizem. E quando levo meus exames para eles verem e recebo um “- Parabéns. Está tudo perfeito “, eu não me conformo: - Mas , doutor, não tem uma transaminase um pouco aumentada, será que o senhor não descobre um mau colesterol, quem sabe o ácido úrico ou talvez a glicose esteja ameaçadora? Nem uma gripe, que é coisa mais simples?Triste,insisto:- Nada, doutor?Nada,tudo bem, diz o médico.Ah, eu, sou daqueles que nunca mais volto lá .Vou procurar outro médico mais amigo, que ,certamente,pedirá mais exames até a gente descobrir alguma coisa. Sem um mau resultado, pelo menos, eu não saio do consultório. Com mais de quatro remédios diferentes por dia, dizem os médicos mais experientes, o paciente está mal medicado. Pois eu , entre remédios e vitaminas, tomo 35 por dia e pretendo chegar aos 40, forte e saudável, mas não muito. São fascinantes aqueles remedinhos, cada um com uma cor , azuis,vermelhos,ocres, laranjas ,verdes translúcidos e até de duas ou mais cores. E agora com formas diferentes: diamantes, sementinhas,gotas,losangos e hexágonos.E as pastilhas que se dissolvem na boca? E os efervescentes, então?Um orgasmo, com barulhinho e tudo. Por isso quando viajo, assim que chego ao hotel, procuro a farmácia mais próxima. Entro e digo:- O que há de novo? Do outro lado do balcão alguém me pergunta:- De novo? Para que doença? E eu vou fundo:- De novo. Pra “que” não interessa.Baixa logo as novidades...desce tudo o que tiver de novo. Em Berlin, sem entender alemão,vi um remédio na vitrine. Eram caixas laranjas e pareciam um estojo de jóias. Pedi quatro caixas.Em inglês a mulher me perguntou se o remédio era para mim e, como eu disse que sim ,ela me explicou que eu estava comprando um anticoncepcional e me perguntou se era isso mesmo que eu queria. Não era. Mas para não ficar feio eu fui firme:- É isso mesmo. É para minha mulher. E ela, minha mulher, nem pode tomar pílulas hormonais. Mas eu comprei assim mesmo. Aliás não sou só eu que gosta de farmácias. Em Nova Iorque ou Paris quer encontrar um brasileiro, vá na farmácia. Eu tenho uma amiga brasileira que também é louca por uma farmacinha. Quase não a vejo por aqui, mas quando vou a Paris e entro numa farmácia ,na esquina da Av. George V ,pode ter certeza que ela estará lá. Outro dia entrei e ela não estava. Cumprimentei a senhora que é dona da farmácia:- Como está? E ela ,sem responder ao cumprimento, foi logo dizendo: sua amiga brasileira não veio, não está em Paris? Eu não sabia, nunca sei quando ela está lá, só sei quando a encontro na farmácia.Pois eu ainda não tinha acabado de pagar o meu solitário “spray anti-ronco” quando a brasileira apareceu. Tinha uma lista quilométrica para comprar.Eu fui embora com inveja e a deixei mergulhada em caixas e vidros de remédios. Na viagem que fui a Índia, debrucei-me em um balcão em Jaipur. Lá Você não entra na farmácia. Fica do lado de fora. E Você pode comprar remédios sem receita e por unidade. Duas aspirinas, quatro antiácidos,um Viagra, enfim a quantidade que quiser.Mas Você tem que conhecer a composição, porque a maioria dos remédios são genéricos. Pois eu tentava comprar meia dúzia de Zofran ,cujo principio ativo atende pelo nome simpático de “cloridrato de ondansentrona” ,e quem aparece, de repente, em plena Índia? A amiga brasileira. Deus,gritei. Você por aqui? E ela espantada:- Não é uma farmácia? Você queria me ver onde? Bom, eu me referia a surpresa de vê-la na Índia, mas para ela a farmácia era muito mais importante do que o inesperado encontro.Remédio, parafraseando Vinicius, é uma paixão...eterna, enquanto a gente dura.Fica a pergunta: Vivem mais os hipocondríacos? Como os médicos sustentam que não existem doenças e sim doentes, que cada caso é um caso, eu acho que os que praticam a auto-medicação viverão menos. Mas os chatinhos, ratos de consultório, vão descobrir precocemente as suas doenças e viverão mais. Resta saber se vale a pena saber tudo o que Você tem. Eu quero saber :- Doutor, por favor, me conta.

Um comentário:

  1. Adorei!!!!
    Já entrei varias vezes para ver as novidades
    e realmente sempre gosto muito...
    Parabens
    LEDA

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