26 de mar. de 2010


Potencial de crescimento eleitoral



Final de março de 2009. Há um ano, o Instituto de Pesquisas Datafolha divulgava um levantamento de intenção de voto para a Presidência da República que mostrava o tucano José Serra com 41%, o deputado Ciro Gomes com 16% e a ministra Dilma Rousseff com 11%.
A diferença era muito grande e criava as condições para conclusões precipitadas. O diretor-presidente do Ibope, Carlos Augusto Montenegro, foi um dos que incorreram nesse prognóstico açodado. Afirmou que o presidente Lula não elegeria Dilma. Cheguei a alertá-lo sobre a imprudência de sua avaliação, em um artigo neste mesmo espaço (leia aqui).
Um ano depois, já neste 2010 de eleições, o Ibope apresenta os números do final de março para presidente: Serra 35%, Dilma 30%, Ciro 11% e Marina 6%. A diferença entre Serra e Dilma despencou de 30 pontos percentuais para somente 5. Em outras palavras, os apressados de ontem devem reconhecer a precipitação e dizer que Dilma cresceu de forma consistente e que possui chances de vencer as eleições.
Alguns clichês são importantes neste momento. O primeiro é que falta muita água para rolar debaixo desta ponte e que as eleições serão disputadas de parte a parte. O segundo chavão diz que pesquisa é retrato do momento, diagnóstico, não previsão do futuro.
Não há razão para discordar dessas máximas. Mas as sucessivas pesquisas realizadas neste último ano, mais do que um retrato do momento, revelam-nos um filme da evolução dos principais candidatos —ou a tendência do eleitorado.
E, neste filme, Dilma cresce de forma consolidada, enquanto Serra perde força e cai. Esse movimento acontece em todos os institutos de pesquisa, o que reforça ainda mais a avaliação de que, hoje, ambos estão bem próximos.
Contudo, uma análise sensata dos últimos números de intenção de voto permite-nos perceber mais sobre a movimentação do eleitorado. Um dos dados é que a preferência pelo nome de Dilma se acentua conforme ela se torna mais conhecida.
Há duas razões para isso: a primeira é que o brasileiro sabe o quanto o Governo Lula avançou (73% de aprovação), está buscando quem é o candidato apoiado pelo presidente e, quando identificam que é Dilma, declaram voto a ela; e a segunda razão é que, ao conhecer melhor Dilma, o eleitor percebe sua importância e atuação durante todo o Governo Lula.
Vejam que, pelo Ibope, 53% dos eleitores dizem apoiar o candidato do presidente Lula, mas 42% ainda ignoram que a ministra Dilma Rousseff é essa candidata.
Além disso, Dilma ainda tem grande potencial de crescimento, porque é conhecida somente por 44% dos entrevistados. Ainda assim, ela já está à frente de Serra na pergunta espontânea (14% para Dilma contra 10% do tucano). Quem lidera na espontânea? Lula, com 20%, mais um elemento que indica potencial de crescimento de Dilma.
Em debate realizado na Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas, os diretores dos quatro principais institutos de pesquisa (Ibope, Datafolha, Sensus e Vox Populi) fizeram a mesma avaliação: na atual situação, as condições são favoráveis à Dilma.
O diretor do Vox Populi, João Francisco Meira, apresentou quatro fatores decisivos nas eleições: situação da economia; alianças e tempo de TV; aspecto ideológico; e imprevisto que pode alterar a opinião dos eleitores.
À exceção deste último, os demais são positivos para Dilma: no Governo Lula, o Brasil conquistou grandes resultados socioeconômicos; o arco de partidos que devem apoiar Dilma é maior e de mais peso que a oposição; e 56% das pessoas se definem como sendo de esquerda.
A diretora do Ibope, Márcia Cavallari, reforçou o cenário pró-Dilma, ao dizer que “o eleitor se sente muito confortável de ter votado no Lula e agora fazer essa avaliação de que acertou. Ele pensa: ‘Acertei, e o País está tendo avanços’. O eleitor considera que os avanços foram muito mais profundos no governo Lula. A comparação com o governo FHC é prejudicial para o Serra”.
Tal comparação faz a população perceber que o Governo Lula imprimiu um rumo certo ao país e não há interesse em mudar. Sem propostas para o Brasil e dizendo que mudaria as políticas do presidente Lula se ganhar as eleições, só resta à oposição tentar convencer o povo de que os anos FHC foram melhores. Quem vai concordar?

José Dirceu, 64, é advogado e ex-ministro da Casa Civil

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