16 de mar. de 2010


Poesias de amor e morte - Jorge Mautner



CANTO II
Vou comprar avencas 
E samambaias 
Bananas em pencas 
E te beijar pelas praias
Violões da boemia 
Canto das cigarras 
É noite e dia 
Fanfarras e farras
Quando é que tu paras 
De me seduzir? 
Quero ficar dias e noites odaras 
Mas assim eu só posso me consumir e sumir
Como o elétron 
E me esvair 
E aí: sumir, assumir? ah! Sumir?! 
A zunir no neon, no Nadir, do nêutron?
Versos ricos 
Versos baratos 
Estamos fritos 
Como os ratos
Só quem ama 
Muito é que pode 
Ser a chama que inflama 
Até essa pobre ode
Ode ou soneto 
São tudo coisas de desengano 
Oh Olga de Alaketo 
Joga os búzios para mim este ano!
Vou comprar petúnias 
E depois margaridas 
Vou calar as calúnias 
E as feridas doloridas
Vou comprar camélias 
E também jasmins 
Morreram todas as as amélias 
E todos os arlequins
Ficaram os girassóis 
Mas sem nenhuma outra flor do lado 
Morreram todos os sóis 
E até eu a sós fui enterrado
Só os corpos de leite 
E as pequenas violetas 
Conseguiram escapar como enfeite e deleite 
Nos caixões das multidões das solidões de todos os planetas 

Henrique George Mautner, ou Jorge Mautner, nasceu no Rio de Janeiro no dia 17 de janeiro de 1941. Conhecido pelo seu trabalho de compositor e cantor brasileiro é umas das grandes referências do Tropicalismo. Publicou treze livros desde 1962, quando estreou na literatura com o livro Deus da Chuva e da Morte, com o qual ganhou o prêmio Jabuti.

Nenhum comentário:

Postar um comentário